Arquitetura

A arquitetura preservando memórias

Os memoriais são conhecidos por carregar histórias. Sejam elas de pessoas, lugares, acontecimentos. É necessário conhecimento e muita sensibilidade para projetar um espaço com essa finalidade. Muitos arquitetos encaram esse desafio e o resultado é tocante. Ao redor do mundo temos diversos exemplos desses projetos que servem como um local de introspecção e reflexão, mas, acima de tudo um local de resgate à memória, como o próprio nome já diz. Segundo um professor da FAU-USP os memoriais “contribuem para a formação de uma identidade. Marcam erros do passado, mas dão orgulho a seus habitantes ao sinalizar uma superação”.

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Um desses exemplos é no Uruguai, em Montevideo. Trata-se de um memorial para os presos desaparecidos vítimas da ditadura militar. Para quem não sabe, durante os anos de 1973 a 1984, o Uruguai, assim como o Brasil e outros países da América Latina, passou por um período truculento da sua história com a instalação do governo militar. Foi um período sombrio na história do país, onde milhares de pessoas foram presas e torturados, sem contar os mortos e desaparecidos políticos. Pensando em resgatar a memória dessas vítimas e ao mesmo tempo ajudar no processo de resgate da memória histórica da nação, surgiu uma parceria entre a prefeitura de Montevideo, a Sociedade dos arquitetos do Uruguai e a Comissão Pró-Memorial dos desaparecidos para a realização de um concurso nacional para eleger um projeto a ser colocado em prática.

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Os vencedores desse concurso foram os arquitetos Ruben Otero e Martha Kohen, que ganharam o direito de dar vida ao memorial que eles haviam idealizado. O memorial construído é limitado por um quadrado de concreto de 30×30 metros. Dentro desse quadrado, os arquitetos optaram por retirar toda a grama, assim tornando visível as rochas do terreno que passaram a fazer parte da instalação. O espaço é constituído por duas placas de vidro temperado com acabamento em perfis metálicos de aço corten, enterradas 40 centímetros na base de concreto. Entre as placas existe espaço de 1,80 metro, que permite a passagem e a leitura dos 156 nomes de desaparecidos que estão escritos nos vidros.

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O local escolhido para a instalação do projeto foi um grande parque em frente ao Rio da Prata. Segundo um dos arquitetos, a ideia era que o memorial estivesse em uma área do parque distante das ruas e avenidas movimentadas, para que assim pudesse proporcionar a calma e a introspecção necessárias a um monumento desse tipo.

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Segundo a Comissão Pró-Memorial dos desaparecidos, “A realização do memorial implica em um passo a mais na busca de mecanismos de reparação às vítimas de uma das maiores violações aos direitos humanos. Se trata, então, de contribuir para um processo de construção da memória coletiva de uma nação. Através desta reparação, procura-se também deixar um testemunho de um período da nossa história e assim colaborar, de alguma forma, para a prevenção de futuras violações. Não se trata de substituir outras formas necessárias de reparação em particular, a verdade individual e concreta de cada um dos desaparecidos, mas de oferecer um clima de serena reflexão sobre o que aconteceu e ainda acontece. Não através do confronto ou do discurso violento, mas do testemunho silencioso e profundo do símbolo”.

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