Os preços de apartamentos novos e usados à venda na Barra estão 22% mais altos se comparados com os valores cobrados há cerca de um ano, aponta levantamento recente feito pela Imobiliária Lopes. Já o valor do aluguel, que opera no “teto”, segundo os especialistas, subiu pouco menos no período, em média cerca de 10%.
Desde que tiveram início as obras de requalificação na orla do bairro, no entanto, chama a atenção a quantidade de estabelecimentos comerciais disponíveis para venda ou aluguel na região – a despeito da chegada de um ou outro novo empreendimento.
De acordo com a corretora Istael Fonseca, especializada na comercialização de imóveis na Barra, a procura por este tipo de propriedade continua alta, mas os preços “ainda estão irreais“. “Ainda” porque, segundo ela, os valores são os mesmos praticados em 2013.
“Aqui sempre esteve valorizado. Ano passado já estava tudo explorado, os preços nas alturas. Tem casos que se têm de baixar o valor para fazer negócio. Acontece que está difícil alugar e vai ficar pior. Faltam vagas de estacionamento”, afirma.
À frente de um salão de beleza na Rua Marques de Leão, há cinco anos, o cabeleireiro Alício Cardoso Braz reforça o tom da queixa. E diz que, para não ter de pagar diariamente para estacionar o veículo em frente ao seu estabelecimento – tudo no bairro é Zona Azul –, recorre a um shopping da região.
Conhecido como Nilsinho, Alício conta que até o mês passado pagou durante três anos R$ 3 mil mensais de aluguel, mas que houve um reajuste de R$ 400 agora em setembro. O faturamento, que já chegou a R$ 15 mil, ele viu despencar em agosto para cerca de R$ 5 mil.
“A proprietária disse que o reajuste correto não seria esse, que seria maior. Ao mesmo tempo, ela disse que sabia que o movimento estava fraco. Estamos aqui na esperança de dias melhores”, conta Nilsinho.
Para o diretor de vendas da Lopes na Bahia, Murilo Correia, a tendência, no entanto, é que, de uma forma geral, os imóveis no bairro sigam valorizando. Segundo ele, incorporadoras estão de olho em casas da região com intenção de “verticalizar”.
“O período de obras no bairro foi um sofrimento, mas novos empreendimentos já se anunciam, como um lançamento na Ladeira da Barra com o valor do metro quadrado a R$ 9 mil”.
Metro quadrado do aluguel
Responsável por um imóvel de dois pavimentos e 480 m² – na Rua Marques de Leão, onde funcionava um cartório – avaliado em R$ 2 milhões (venda; R$ 13 mil, se aluguel), a corretora Valéria Andrade diz que o valor do metro quadrado para locação de imóvel comercial em Salvador gira entre R$ 45 e R$ 69.
Ela também fala em “tendência de valorização” desses imóveis, mas diz que são os mesmos do ano passado.
“As pessoas ligam e todas se queixam do preço, mas eles estão estáveis. A depender do estado de conservação da propriedade e do tipo de negócio a ser instalado, pode haver carência de até 60 dias (no pagamento do aluguel) para uma reforma e adaptações necessárias”.
“As casas vão ter de ser modificadas. Novos bares e restaurantes estão chegando, no fim de semana já é uma festa. Agora, claro, ainda é muito cedo. Leva um tempo até tudo acontecer, diz Sérgio Bezerra, empresário na região há 38 anos e um dos fundadores da Associação de Moradores da Barra.
Bezerra, inclusive, está apostando em um novo empreendimento no bairro (antiga Cabana da Cely), uma espécie de boteco gourmet (Nan Grogh). “Dia 22 completa um mês de conclusão das obras. Estamos retomando com esperança. Muitos ainda vão se dar conta da importância da nova Barra”.
Tendência é que novos investimentos cheguem ao bairro aos poucos
Na avaliação do presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel- Bahia), Luiz Henrique do Amaral, apesar do movimento ainda “tímido”, a tendência é que, aos poucos, novos investimentos empresariais cheguem à Barra. Para Amaral, as intervenções físicas tinham de vir junto com um projeto de fortalecimento do setor.
“Nos preocupamos com essa questão desde o início das discussões. A situação prejudicou muito o empresariado e enfraqueceu sua capacidade de resposta. Por enquanto, estão todos aguardando para uma tomada de decisão”, afirma.
Um dos primeiros a apostar no “novo” bairro, há cerca de dois meses, foi o empresário e sócio do restaurante Oui, Fred Barreto. Vindo da Bahia Marina – o Oui funcionava lá–, ele conta que um outro empreendimento (o Herculano) também está de mudança da Avenida Contorno (Bahia Marina) para a Barra.
Segurança na Barra em Salvador
“Tem gente que acha caro (o preço do aluguel), outros dizem que não. Mas a verdade é que está tudo caro, sim”, diz Barreto.
Para o presidente da Associação Baiana das Administradoras de Imóveis e Condomínios (Abai), Manoel Teixeira, falta à Barra ainda “consolidar a segurança”. Segundo ele, “imóvel de rua tem de dar resultado, e isso só acontece com local seguro”.
“A construção de um bairro tem de ser planejada. Se não tem segurança, as pessoas ficam mais cautelosas em investir. Valorizou, está muito bonito, mas a requalificação tem de ser completa. É preciso mais segurança, para chamar a família”, acredita Teixeira.
Barra volta a ser cobiçada
[A Tarde – BA – 20/09/2014 pág: 1 ]
